quarta-feira, 10 de março de 2010

Atobas do arquipélago de São Pedro e São Paulo

Diário de Darwin1 Comentado- parte 7
Um lugar sem sombra e ameaçado por terremotos e alagamentos por vagas gigantes! Em 1832, quando o Beagle aportou nesses rochedos em meio ao oceano Atlântico eles eram terra-de-ninguém, mas desde 1995 passaram a ser o território mais distante do Brasil e já foram palco de um resgate fantástico...

Darwin referiu-se a este local como Rochedos de São Paulo, mas tratam-se de cinco ilhotas, que compõem um arquipélago de pequenas ilhas rochosas, situado na parte central do Oceano Atlântico Equatorial, distando 870 quilômetros do Arquipélago de Fernando de Noronha e 1010 quilômetros de Natal. Foi declarado como parte do território brasileiro, pertencente ao estado de Pernambuco (Wikipédia e Netsaber Curiosidades).

(Darwin)"Rochedos de São Paulo – Ao atravessarmos o Atlântico, na manhã de 16 de fevereiro aproamos para o vento, parando a pequena distância dos rochedos de São Paulo. Este agrupamento de rochedos se acha situado entre a latitude 0º 58’ norte e longitude 29º 15’ oeste. A distância que os separa do continente americano é de quinhentas e quarenta milhas, e da ilha Fernando de Noronha, trezentas e cinquenta milhas. O ponto mais elevado alcança somente a cerca de quinze metros sobre o nível do mar, e todo o perímetro não chega a mil e duzentos metros. Esta pequena ponta se ergue abruptamente das profundezas do oceano."

Este pequeno arquipélago de rochedos com menos de 20 metros de altura, constitui o topo de uma montanha submarina colossal, que aflora de uma profundidade de 4 mil metros. Quando o governo brasileiro construiu a primeira estação científica no local, os rochedos passaram à condição de arquipélago e o Brasil ganhou 200 milhas ao seu redor. As reservas dos poços de petróleo Carioca, Tupi e Júpiter estão nos limites destas 200 milhas (Jornal da Ciência).

(Darwin): "Sua constituição mineralógica não é simples, o rochedo apresentando uma constituição quartzoza em alguns lugares e feldspática em outros, inclusive um delgado veio de serpentina. É notável o fato de que todas as inúmeras ilhotas encontradas longe do continente nos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico, excetuando-se as Sechelles e esta pequena ponta de rochedo, são, creio, formadas ou de coral ou de matéria eruptiva. A natureza vulcânica destas ilhas oceânicas é, evidentemente, uma extensão da lei e efeito das mesmas causas, quer mecânicas ou químicas, segundo a qual a grande maioria dos vulcões em atividade estaria situada próximo ao litoral ou em ilhas no meio do oceano."

Segundo o Jornal da Ciência (13 de Outubro de 2008), o Arquipélago de São Pedro e São Paulo não é formado por rochas vulcânicas, mas sim plutônicas ou intrusivas. Os geólogos não sabem exatamente sua origem e quando ele se formou, mas estimam em mais de 35 milhões de anos, segundo o geólogo Thomas Ferreira da Costa Campos, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Um dos motivos do interesse de geólogos pelo arquipélago é que ele fornece raras informações sobre a quebra e a deriva dos continentes e a abertura do Oceano Atlântico.

Arquipélago com Farol e Estação Científica Brasileira sendo construída (Wagner Gumz)

(Darwin): "Vistos a distância, os Rochedos de São Paulo são de um branco brilhante. Isto é devido, em parte, ao excremento de uma infinita multidão de gaivotas e, em parte, a uma camada dura e polida de certa substância com lustre de pérolas, que adere intimamente a superfície dos rochedos. Esta substância apresenta sob a lente de consistência de numerosas camadas excessivamente delgadas sobrepostas numa espessura total de cerca de dois milímetros e meio. Muita matéria animal se acha ali contida e, sua origem sem dúvida se depreende da ação da chuva ou da pulverização das ondas sobre o esterco das aves."

Colônia de viuvinhas nas rochas esbranquiçadas (Webshots Travel)

Apesar de não ter praia, vegetação ou água doce, o arquipélago é rico em fauna: funciona como refúgio e área de reprodução de aves e dezenas de espécies marinhas.

Viunvinha no "ninho" (Geocities)

(Darwin): "Sob pequenas massas de guano, encontrei em Ascensión e nos Abrolhos certos corpos com ramificações estalactíticas, a toda aparência formados da mesma maneira que a tênue película sobre estes rochedos. Tal era a semelhança entre o aspecto geral destes corpos ramificados e o de certas nulíparas (uma família de plantas marinhas calcáreas) que quando há pouco examinava apressadamente minha coleção, não percebi a diferença. As extremidades globulares das ramificações são de uma contestura assemelhando-se a da pérola, como o esmalte dentário e de tal grau de dureza que podem riscar o vidro."

Atobas do arquipélago de São Pedro e São Paulo (Wagner Gumz)

(Darwin): "Poderei mencionar aqui que, numa parte da costa de Ascención , onde se encontram vastas acumulações de areia conchifera, a água do mar deposita sobre os rochedos cobertos pela preamar uma incrustação, fazendo lembrar certas plantas criptogâmicas (Marchantiae), que se vêem ocasionalmente sobre as paredes úmidas. A superfície da fronde possui um lustre magnífico; as partes formadas a luz são de cor preta ao passo que as que se fizeram à sombra são apenas cinzentas. Mostrei espécimes desta incrustação a vários geólogos e todos foram de opinião que eram de natureza vulcânica ou ígnea! A dureza e a translucidez – o polimento igual ao das mais belas conchas de Oliva - o mau cheiro que exala e a perda de cor ao maçarico, tudo revela uma íntima relação com as espécies de conchas vivas. Nas conchas, como se sabe, as partes habitualmente cobertas pelo manto do animal são mais pálidas que as porções completamente expostas à luz, tal qual sucede no caso desta incrustação. Quando nos lembramos de que o cálcio, quer na forma de fosfato, quer na de carbonato, entra na composição das partes duras de todos os animais vivos, como os ossos e as conchas, é fato fisiológico interessante acharem-se substâncias mais duras que o esmalte dentário e superfícies coloridas e lustrosas como a das conchas frescas, que por processos inorgânicos, foram reconstituídas de matéria orgânica morta – e, ainda mais, numa imitação irônica de formas vegetais rudimentares."

Atualmente, estão sendo desenvolvidos mais de 20 projetos de pesquisa na estação científica, mas houve em 2006 uma forte ressaca que ameaçou a vida de alguns pesquisadores. Os detalhes desta aventura foram publicados porMartha San Juan na Revista Horizonte Geográfico.

Ondas encobrem o arquipélago (Revista Horizonte Geográfico)

Bibliografia.
[1] – Texto usado para as citações: Darwin, C., Viagem de um Naturalista ao Redor do Mundo - Vol.1, Nova edição, 1871. Abril Cultural. Companhia Brasil Editora, São Paulo, s/d.